XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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LAND GRABBING E CONTROLE DO TERRITÓRIO AGRÍCOLA BRASILEIRO: ANÁLISES A PARTIR DA ATIVIDADE DE UMA EMPRESA TRANSLATINA
Larissa Chiulli Guida

Última alteração: 2018-06-06

Resumo


Neste início de século, a produção agropecuária no Brasil passou por grandes mudanças devido à acelarada expansão de culturas voltadas para a exportação, as denominadas commodities agrícolas - com destaque para a soja, cana-de-açúcar, milho, algodão e café. Tal produção é realizada por grandes empresas transnacionais e acarretou mudanças significativas no território agrícola do país. Este modelo da agricultura moderna exige altos investimentos em tecnologias, maquinários, insumos e fertilizantes, entre outros determinantes da produção que reestruturaram a área rural brasileira, promovendo a expansão da área agrícola, aumento do êxodo rural e devastação do meio ambiente (sobretudo do bioma Cerrado e Floresta Amazônica) (OLIVEIRA, 2016). Somado a essa questão, na última década, novas empresas transnacionais controladas por fundos financeiros internacionais passaram a comprar grandes glebas de terras agrícolas no Brasil, fato que levou a AGU (Advocacia Geral da União) a criar uma lei em 2010 que restringia a compra de terras agrícolas brasileiras por investidores estrangeiros, segundo explicam os autores Hage, Peixoto e Vieira Filho (2012). Tal fênomeno de aquisição de terras agrícolas e recursos naturais pelo sistema internacional de finanças em países do denominado “Sul-Global” tem sido estudado por muitos pesquisadores e se popularizou, principalmente, pelo termo land grabbing, como demonstra a pesquisa de Borras Jr et al. (2012). Os mesmos autores também declaram que nos países latinoamericanos, as principais empresas que mais compram terras, são originárias da própria região da América Latina, por isso usam o termo “empresas translatinas”. A pesquisa de Bernardes et al. (2017) aponta que entre as empresas translatinas que mais compram e controlam terras brasileiras se destaca o grupo argentino Adecoagro, que tem entre seus principais acionistas o famoso financista global George Soros. No Brasil, tal empresa possui três frentes de negócios: (a) produção agrícola (soja, algodão e café); (b) transações imobiliárias (compra, venda e arrendamentos de terras) e (c) produção de açúcar, etanol e energia (sucroenergética). Para realizar essa produção, a Adecoagro controla um banco de terras agrícolas brasileiras de mais de duzentos e cinquenta mil hectares, além da construção de indústrias e infraestruturas no campo que modificaram o território rural brasileiro, interferindo, inclusive, na permanência de trabalhadores rurais no campo. Além do êxodo rural, observa-se como consequência da atuação da Adecoagro no campo brasileiro o controle da produção agrícola, o aumento da especulação no mercado de terras e a transformação da paisagem rural (ALMEIDA; GUIDA, 2017). Com isso, o objetivo deste trabalho é demonstrar as transformações territoriais no campo brasileiro promovidas pelas atividades da Adecoagro, procurando associar tal fato, ao fenômeno mundial de aquisição e controle de terras agrícolas, denominado por land grabbing.


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