Última alteração: 2018-06-05
Resumo
Palavras-chave: fecundidade, género, conjugalidade, segunda transição demográfica
Pretende-se discutir o contexto interpretativo da Segunda Transição Demográfica (STD), inicialmente apresentada por Lesthaeghe e van da Kaa (1986), revisitando o enquadramento conceptual que têm vindo a suportar uma abordagem critica da leitura que, tradicionalmente, interpretam o declínio e adiamento persistente da fecundidade, através da modificação das dinâmicas familiares que se instalaram no último terço do século XX. Estas dinâmicas caracterizam-se pelo adiamento do casamento, pela instalação de novas formas de conjugalidade, com destaque para a coabitação, aumento do divórcio, redução da dimensão das famílias, crescimento da monoparentalidade ou de cônjuges sem filhos.
METODOLOGIA
Procedeu-se a uma revisão bibliográfica, partindo dos textos produzidos por Lesthaeghe e van da Kaa, seguindo a atualização argumentativa dos autores e dos indicadores de suporte(2010; 2014). Estes fundamentos foram contraditados com referências que procuram validar, em diferentes contextos geográficos, a argumentação teórica avançada (Ogden & Hall; 2003), através da opinião critica quetêm questionado a validade da STD como instrumento de leitura de “um novo regime demográfico”, sobretudo, a sua pretensa adequação geográfica, a linearidade interpretativa e (in)consistência empírica (Esping-Anderson; 2015; Zaidi & Morgan, 2017). Tendo como base indicadores demográficos associados à STD: idade e tipologia de estado civil, composição de agregados domésticos, idade da mãe no primeiro filho, indicadores de (des)igualdade de género (ganho médio salarial por sexo), foi averiguada a sua evolução temporal e, quando possível, abrangência espacial em Portugal.
CONCLUSÃO
Os dados empíricos demonstram que, ao contraio do que está subjacente ao conceito de transição, alguns dos países pioneiros no declínio da fecundidade têm evidenciado recuperação de valores, colocando em causa a leitura inicial que defendia o protagonismo de uma mudança social uniforme, linear e sequencial que, uma vez alcançada não deveria ser reversível. Estas diferenças validam uma discussão teórico e empírica, onde a equidade de género, pública e privada, e as consequências da globalização, materializadas pelo aumento da incerteza económica e desregulação laboral são agora referidas como potencias ameaças à doutrina inicial defendida pela STD.
Bibliografia:
Esping-Andersen G, Billari F.C. (2015). Re-theorizing Family Demographics. Population and Development Review. Vol. 41(1):1–31.
Lesthage, R. (2010). The unfolding story of the Second Demographic Transition. Population and Development Review, 36, 211-251.
Lesthaeghe R. (2011). The ‘second demographic transition’: a conceptual map for the understanding of late modern demographic developments in fertility and family formation. Historical Social Research, 36:179–218.
Lesthaeghe R. (2014). The second demographic transition: A concise overview of its development. Proceedings of the National Academy of Sciences. 201420441
Ogden, P. E & Hall, R. (2004). The second demographic transition, new household forms and the urban population of France during the 1990s. Transactions on the Institute of British Geographers; Vol. 29; (1), 88-105.
Zaidi, B., Morgan, S.P. (2017). The Second Demographic Transition: a review and appraisal. Annual Review of Sociology. Vol.43: 473–492.