Última alteração: 2018-06-04
Resumo
O presente artigo busca evidenciar as relações entre clima trabalho e saúde pelo prisma de uma rotina de trabalho realizada no espaço urbano de uma cidade média tropical: varrição pública de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
A atividade das(os) varredoras(es) de ruas é de remoção de lixos e entulhos presentes nas vias públicas. A atividade reúne um conjunto de situações cotidianas desfavoráveis. É possível mencionar: trabalhar a céu aberto, andar durante um turno de oito horas, executar movimentos repetitivos, muitas vezes encurvadas(os), estar em contato direto com o lixo urbano, permanecer em vias de grande movimentação de veículos, sem local próprio de descanso, almoço e até mesmo de usar o banheiro.
É uma atividade realizada majoritariamente por mulheres, grande parte destas apresentam idades avançadas. Somado a isso, no âmbito social, a atividade é pouco valorizada, de baixo prestígio social e de baixo reconhecimento caracterizando a invisibilidade da função, assim como identificou Costa (2004).
Apesar da atividade reunir aspectos desfavoráveis para a saúde e bem-estar das(os) trabalhadoras(os), a insalubridade da função não é reconhecida e isto se deve em muito pelo desprestígio social da função.
Compreendemos, assim como Sant’Anna Neto (2004) que os diferentes grupos sociais não experimentam e nem se relacionam com o tempo e o clima da mesma forma. Portanto, evidenciamos em nossa pesquisa as minucias do cotidiano laboral em varrição, tendo em vista as relações destas(es) com as dinâmicas atmosféricas típicas de um ambiente tropical, urbanizado.
Para caracterizar as situações térmicas as quais são submetidas(os) as(os) varredoras(es) adotamos o índice IBUTG (Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo). O referido índice foi adotado devido ao seu reconhecimento na legislação trabalhista brasileira para a caracterização de ambientes de trabalho termicamente insalubres. Realizamos, também, entrevistas com diferentes sujeitos envolvidos com a atividade de varrição.
Com a adoção do índice IBUTG identificamos a alta frequência de eventos de calor na cidade estudada. Eventos estes que estão acima dos limiares recomendados pela legislação brasileira por representarem riscos para a saúde das(os) trabalhadoras(es).
Apesar da alta ocorrência desses eventos, concentrados nos meses de novembro a abril, constatamos que este não é um risco considerado. Consequentemente não é monitorado, controlado, evitado ou compensado.
Muitos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) atuam a “céu aberto” expostos(as) a todo tipo de intempéries climáticas. Apesar de ser parte do cotidiano laboral brasileiro, pouco se discute sobre esta temática. Este artigo tem o objetivo de apresentar a rotina de trabalho das(os) varredoras(es) de ruas de Presidente Prudente/SP Brasil, com ênfase a experiência climática destas(es).