Última alteração: 2018-06-06
Resumo
As condições climáticas de uma região são muito importantes para a produção vitivinícola. Anos com alto déficit de água são incompatíveis com os processos fisiológicos normais da videira, com repercussões na produção e na qualidade do vinho (Jones and Alves 2012). Este trabalho pretende identificar as regiões vitivinícolas mais suscetíveis a precipitações extremas (EPSI) e a períodos longos de seca. Para tal, foram calculados 8 índices de precipitação extrema, a partir dos dados diários de precipitação da base de dados PT02, entre 1950 e 2003. Os índices utilizados foram: PRCPOT, R×1 dia, R×5 dias, SDII, R20, CDD, CWD e R95PTOT. O primeiro refere-se à precipitação total nos dias húmidos (precipitação diária ≥ 1 mm). Os dois seguintes descrevem a precipitação associada a períodos húmidos extremos, enquanto a SDII reflete a intensidade diária. O R20 é definido como a contagem de dias com precipitação ≥ 20 mm, isto é, quantidades de precipitação diária moderadas a elevadas. O CWD é definido como o número de dias consecutivos com precipitação (precipitação diária ≥ 1 mm) enquanto o CDD refere-se ao número de dias consecutivos sem precipitação. O R95PTOT avalia a contribuição das precipitações diárias extremas para a precipitação total. Considerando apenas seis índices extremos de precipitação (R×1 dia, R×5 dias, SDII, R20, CWD e R95PTOT), o EPSI foi desenvolvido tanto para dados anuais quanto para dados sazonais (Santos et al. 2017). Considerando os mesmos índices, avaliamos também as possíveis mudanças das condições climáticas futuras (2046-2065). Os resultados mostram que são as regiões vitivinícolas do Minho, Terras do Dão, Península de Setúbal e Algarve que apresentam maiores percentagens de área com suscetibilidade elevada e muito elevada a precipitações extremas. Os resultados do EPSI mostram resultados semelhantes no outono e inverno. Na primavera, a classe de suscetibilidade elevada aumenta na região de Lisboa, Trás-os-Montes e Douro. As regiões mais a sul do país, estão sujeitas a períodos mais longos de seca. No entanto, o número consecutivo de dias secos (CDD) está projetado, entre 2046 e 2065, para aumentar para mais do dobro dos dias, em todo o país. Desta forma, o aumento dos períodos secos, provocará uma redução potencial das condições de humidade no solo, com consequências no rendimento da vinha. Por outro lado, a precipitação extrema, se ocorrer numa fase sensível do ciclo vegetativo, pode provocar alterações fisiológicas na vinha e diminuir a produtividade. O conhecimento dos locais mais suscetíveis a precipitações extremas e a períodos longos de seca é fundamental para os profissionais do sector.