Última alteração: 2018-05-29
Resumo
Em 2007, a partir do anuncio da construção de um edifício comercial de 180 metros de altura ao lado do seu centro histórico e a menos de dois quilômetros de bens listados como Patrimônio Mundial, a cidade espanhola de Sevilha se viu dividida entre aqueles que apoiavam e aqueles que rejeitavam o projeto. O ICOMOS, um dos principais atores envolvidos na discussão, chegou a alarmar a possível perda do título da UNESCO, contudo, quase depois de dez anos de obras arrastadas, nada impediu a conclusão em 2016 do primeiro arranha-céu da cidade, hoje denominada de Torre Sevilla. Através do levantamento de documentos, reportagens, imagens e relatórios, diagnosticamos um conflito extremamente polarizado de ordem não meramente arquitetônica ou estética, mas, sobretudo, geográfica na medida em que dizia respeito à organização espacial da cidade. Neste artigo, nos debruçaremos sobre os discursos, ações e estratégias dos promotores da obra e do órgão consultor ICOMOS. Independentemente de suas posições, esses diferentes atores evocaram e manipularam a paisagem como elemento central em discursos sobre o patrimônio, o espaço urbano e o desenvolvimento da cidade. Diante do caso de Sevilha, percebemos que cada vez mais as discussões sobre as políticas patrimoniais tem levado em conta a paisagem, evidenciando claramente suas dimensões simbólicas e políticas que este conceito pode assumir.