Resumo: As cheias rápidas ocorrem em bacias de pequena e média dimensão após episódios curtos de precipitação intensa. A relevância do seu estudo em Portugal Continental resulta de ser a principal causa de mortalidade por processos hidro-geomorfológicos, de acordo com a base de dados DISASTER (Pereira et al., 2016), da necessidade de conhecimento da suscetibilidade à sua incidência territorial e da inexistência de sistemas de previsão e alerta para a sua ocorrência.

Este estudo descreve uma metodologia exploratória de avaliação de susceptibilidade a cheias rápidas para Portugal Continental, adotando uma abordagem multicritério, a partir de um conjunto de 9 fatores condicionantes, definidos ao município: escoamento acumulado, hierarquia fluvial de Strahler, rugosidade, declive, depósitos aluvionares, grau de impermeabilização, litologia de elevada permeabilidade, Landform Classification e escoamento anual. A atribuição do peso de cada fator baseou-se em Análise Hierárquica de Processos (AHP). O score final de susceptibilidade a cheias rápidas é obtido pela soma do produto entre o score de cada fator e o respetivo peso. Os resultados obtidos pelas várias combinações de hierarquias e pesos de fatores condicionantes indicam como mais suscetíveis os municípios incluídos nas bacias dos rios Ave, Leça, Tâmega, Tua, Vouga, Mondego, Nabão, Trancão e pequenas ribeiras de Cascais e Oeiras. A Sul do rio Tejo, destacam-se alguns municípios das bacias dos rios Sorraia, Odivelas (B.H. Sado), Ardila e Oeiras (B.H. Guadiana). A suscetibilidade a cheias rápidas é menor na generalidade dos municípios dos vales inferiores dos rios Tejo e Sado, onde predominam as cheias lentas sobre as cheias rápidas. Os scores de suscetibilidade obtidos ao município são relacionados estatisticamente com a agregação das ocorrências de perdas devidas a cheias rápidas e inundações urbanas, registadas na base de dados DISASTER (1865-2015). Apesar dos coeficientes de correlação entre os scores de suscetibilidade e o número de ocorrências por município serem baixos, justificados pelo facto da base de dados de perdas refletir bastante os contextos de exposição e vulnerabilidade e não apenas a suscetibilidade, observou-se uma maior correlação quando o peso do fator grau de impermeabilização médio aumentou. Este estudo exploratório aborda a aplicabilidade de modelos multicritério de suscetibilidade a cheias rápidas em unidades territoriais administrativas, que são heterogéneas do ponto de vista físico, tornando crucial a seleção e a ponderação de fatores condicionantes. Apesar de preliminares, os resultados permitem uma diferenciação territorial dos municípios, identificando aqueles mais suscetíveis a cheias rápidas.

Palavras-chave: base de dados DISASTER; cheias rápidas; suscetibilidade; AHP.

AGRADECIMENTOS: Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no quadro do projeto FORLAND – Riscos hidro-geomorfológicos em Portugal: forçadores e aplicações ao ordenamento do território (PTDC/ATP-GEO/1660/2014). S. C. Oliveira é financiado por uma bolsa Pós-Doutoramento (SFRH/BPD/85827/2012) pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P.

Bibliografia

Pereira, S., Zêzere, J. L., Quaresma, I., Santos, P. P., & Santos, M. (2016). Mortality Patterns of Hydro-Geomorphologic Disasters. Risk Analysis, 36(6), 1188–1210. https://doi.org/10.1111/risa.12516