XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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A ARTE DA “ZUNGA” NAS RUAS DE MAIANGA – LUANDA
Sara Filipa Portovedo

Última alteração: 2018-06-07

Resumo


Hannah Arendt (2007) tem uma conceção de espaço público interessante. A autora defende que a realidade se constrói na esfera pública, espaço que permite diferentes visões e apresentações do que são as pessoas e do que é a realidade. Por se defender aqui a mesma ideia, consideram-se as ruas de Luanda um espaço público privilegiado para se observar a atividade das zungueiras, vendedoras ambulantes. As ruas são parte integrante da arquitetónica do território urbano, que é organizado e abriga a vida pública da população angolana, sendo possível lá encontrarmos referências às interações entre quem regula, quem vive – e como vive – e quem convive no espaço público urbano. Outras referências teóricas incontornáveis são as de Goffman (1979) com a ainda atual designação de “territórios do eu”, Frémont (1980) e mais recentemente de Raffestin (1993) com a designação de “espaço vivido”. Estes conceitos relacionam-se bem com a gestão da coexistência em espaços públicos urbanos que aqui se defende caracterizar a atividade das mulheres zungueiras.Em Angola as mulheres são erradamente tidas como vítimas e invisíveis no sistema económico, mas a realidade das profissionais da “zunga” vem dizer precisamente o contrário. Estas mulheres são muitas vezes o único sustento da família, estão bem inseridas na dinâmica urbana, no tecido social e económico (Grassi, 1998), perpetuando fortes redes de solidariedade, e na história do país. Neste sentido, afigura-se importante compreender o modo como o espaço urbano é vivenciado e apropriado por estas vendedoras e, consequentemente, avaliar qual o seu impacto no desenvolvimento territorial da capital. Partindo de uma contextualização histórica marcada pelo passado de guerra colonial e pelas recentes evoluções, incluindo as urbanísticas, que Angola tem experimentado, apresentar-se-á o papel das zungueiras, que mesmo por via de uma prática informal e fora das estruturas institucionais, se defende permitir atribuir (novos) significados ao espaço público urbano.O presente trabalho tem, assim, por objetivo refletir acerca da prática das zungueiras, do seu dia-a-dia, da utilização que fazem do espaço e das suas experiências de vida. Estas mulheres são as maiores responsáveis pela “zungarização” do comércio nas ruas de Luanda (Santos, 2011). Apesar de também existirem homens zungueiros, por as mulheres estarem em maior número, e serem muitas vezes alvo fácil de violência por parte dos fiscais, decidiu-se que seriam o grupo-alvo selecionado. Também se optou por selecionar apenas zungueiras vendedoras de alimentos (frutas, legumes, carne seca e peixe). Para concretizar este trabalho, além da observação direta pelas ruas do Município de Maianga, realizaram-se entrevistas (curtas e realizadas durante a zunga) a 8 mulheres, maiores de idade e mães de família. Acredita-se que a dinâmica destas mulheres constitui um fator transversal à dinâmica territorial em Luanda. O conhecimento aprofundado destas dinâmicas constitui-se como eixo para a criação e regulação de uma esfera de intervenção, que se acredita dever partir do Estado, que suscite uma melhoria na arte da zunga.

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