A designação de logradouro é utilizada para definir, num edifício urbano, a área de implantação do mesmo que não pertence ao edifício. Habitualmente, tratam-se de áreas, na sua génese, não construídas, que funcionam como espaço de apoio ao prédio e também como área de infiltração. Contudo, em muitos casos, sobretudo no contexto de quarteirões urbanos na cidade densificada, regista-se, posteriormente ou ainda em fase de construção, a impermeabilização dos logradouros, devido à sua ocupação como extensão da área edificada, seja para aumento de áreas úteis das habitações ou comércio do rés-do-chão, seja pela construção de anexos.

No âmbito da importância crescente da promoção de espaços verdes nas cidades, tem sido dado algum destaque a estas áreas, como espaços de importância ecológica no contexto urbano. No caso da cidade de Lisboa, o Plano Diretor Municipal em vigor dedica especial atenção aos logradouros - considerando-os parte da Estrutura Ecológica Municipal, tendo como função “assegurar a salubridade das construções, atendendo, em particular, à ventilação e insolação dos edifícios, garantir a privacidade das habitações, o desafogo e a fruição e recreio, assim como a infiltração das águas pluviais” (Art.º 44) -, e considerando a importância da sua manutenção ou requalificação (cf. PDML - Planta de qualificação do espaço urbano) nos próximos anos.

Neste trabalho pretende-se avaliar o potencial que estes lugares têm para a promoção do bem-estar em meio urbano. Para isso, utiliza-se o programa computacional ENVI-met (versão 4.0). Simula-se o impacte no conforto térmico do incremento de vegetação dos logradouros atualmente impermeabilizados, procurando estimar as alterações de uma potencial requalificação destas áreas. O espaço de análise selecionado para esta modelação localiza-se em cinco logradouros da Avenida Almirante Reis, uma das maiores vias da cidade de Lisboa (via de 2º nível), localizada num vale densamente construído, onde a drenagem de ar frio é dificultada pela urbanização. Optou-se por selecionar quarteirões que não estão identificados como património paisagístico ou espaços a requalificar, para poder avaliar o impacte das mudanças a uma escala de proximidade (quarteirão).

Os resultados indicam claramente o benefício desta mudança de cobertura, com ganhos em conforto térmico (temperatura e humidade relativa) na situação simulada, quando comparada com a situação atual. Os resultados indicam que os logradouros podem e devem ser considerados como parte integrante de soluções de planeamento urbano que visem um ambiente mais sustentável à escala da cidade, mas que podem também constituir um contributo relevante para o conforto da vivência à escala local.