Última alteração: 2018-05-25
Resumo
A produção científica em torno de práticas económicas resultantes de iniciativas bottom-up e fortemente marcadas pelas relações de sociabilidade e pela capacitação de pessoas ou grupos tem vindo a aumentar. Tal se deve à crescente expressão de atividades que surgiram ou reforçaram-se no seguimento da crise económico-financeira de 2008 ou que constituem alternativas a práticas económicas mainstream. Enquadrando-se neste contexto, os espaços de coworking, que surgiram nos Estados Unidos da América, em 2005, representam uma nova tendência de negócio, trabalho colaborativo e auto-organização, que se tem vindo a difundir nas cidades europeias. É consensual que se tratam de locais de trabalho partilhados por diferentes tipos de profissionais, da mesma ou de áreas de atividade diversas, que alugam um gabinete ou uma secretária, tendo acesso a um conjunto de facilidades providenciadas pela entidade gestora do espaço. A literatura académica diz-nos que as motivações dos coworkers para aderir a esta prática são variadas: uns procuram estabelecer redes profissionais; outros procuram um ambiente criativo; e outros ainda procuram apenas um espaço para trabalhar fora de casa. A partilha física do espaço favorece a aprendizagem e a troca de ideias, conhecimento e informação.
Na cidade do Porto, estes espaços ganharam projeção em anos recentes, concentrando-se sobretudo na área central. Dada a falta de conhecimento sobre a perspetiva de quem escolhe trabalhar em coworking, constitui objetivo desta pesquisa perceber as motivações e a perceção dos coworkers instalados no centro do Porto. Para o efeito, foram realizadas 20 entrevistas semiestruturadas em junho e julho de 2017. Pela sua análise percebemos que as áreas profissionais são de espectro variado, indo desde as mais tecnológicas até às mais criativas. Quase todos são freelancers ou trabalhadores por conta própria. Cerca de 35% tem outra atividade profissional, para além da desenvolvida no espaço de coworking. As razões para a seleção do espaço prendem-se, sobretudo, com as suas condições físicas. A proximidade geográfica importa para estes indivíduos, assim como importa a proximidade relacional. O estabelecimento de relações sociais é um aspeto considerado fundamental. A localização na Baixa do Porto é considerada privilegiada pelas condições de centralidade da área consubstanciada na elevada concentração de estruturas de apoio e densidade de pessoas da mesma área profissional ou de áreas complementares, o que significa maior facilidade de acesso a múltiplos recursos. O coworking é uma realidade recente, pelo que existem relativamente poucos trabalhos sobre o tema. Este trabalho constitui, assim, um contributo para um maior conhecimento sobre esta questão e, por esta via, para a análise de novas dinâmicas em contexto urbano e respetivos significados e representações.