XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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DA CONDIÇÃO SUBURBANA DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA
Herculano Cachinho, Pedro Guimarães

Última alteração: 2018-05-27

Resumo


Este ensaio constitui uma primeira abordagem da condição suburbana na Área Metropolitana de Lisboa. O termo subúrbio tem sido usado, nos mais distintos contextos geográficos, para designar a realidade social, cultural e ambiental multifacetada que tem lugar nas periferias das grandes cidades. Produto da prefixação da palavra urb, usada pelos romanos na Antiguidade Clássica para designar os lugares físicos ocupados pela civitas (Phillips, 1996), o termo subúrbio indicia, a priori, uma relação derivativa e estigmatizada – “uma cidade, só que menos…”. Esta condição de espaço subalterno, economicamente dependente dos centros das cidades, enquanto lugar de emprego e consumo, é recorrente na literatura. A título ilustrativo, é retratada de forma incisiva em textos seminais como Spectral Suburbs, do artista norte-americano Robert Smithson (1968), no qual o subúrbio significa, literalmente, uma “city below”, e em Cimêncio, de Diogo Lopes e Nuno Cera (2002), onde assume a forma de não-lugar, de espaço dormitório, em sono profundo, ou ainda nas análises sociais críticas anti-subúrbio norte-americanas, dos anos cinquenta e sessenta, nas quais é frequentemente retratado como um “vasto terreno baldio”, habitat da classe média medíocre e conformista (Phillips, 1996; Nicolaides e Wiese, 2006).

A associação dos subúrbios e da população que neles reside a uma condição inferior de urbanidade, em comparação com a cidade, ganha particular sentido na Área Metropolitana de Lisboa, e vários fatores concorrem para tal situação. Neste ensaio, pretende-se refletir sobre o papel que o planeamento e os planos (ou a falta deles), associados à carência da oferta de espaço público de qualidade e à urbanização fragmentada, cerzida por uma rede de vias rápidas e centros comerciais, têm na produção da condição inferior dos subúrbios e do estilo de vida dos suburbanitas. Quando conjugados, estes fatores participam ativamente na produção de um território sem identidade, a não ser a de contentor-dormitório, a que Lopes e Cera (2002) indexam o neologismo de cimêncio. Despojados de centro e lugares significativos para a vida quotidiana, neles apenas se pernoita. Para viver, o suburbanita necessita de se deslocar à cidade, seja para trabalhar, seja para usufruir de alguns momentos de lazer. Apenas os centros comerciais, autênticos simulacros da cidade, parecem fazer sentido neste vasto território de não-lugares (Augé, 1994), justificando que para a maioria dos suburbanitas estes se encontrem entre os lugares com mais significado e, por isso mesmo, neles dispensem mais tempo, logo a seguir à sua casa e local de trabalho (Cachinho, 2007; Jewell, 2015).

 

Palavras-chave: Subúrbio, Cimêncio, Não-lugar, Espaço público, Centro comercial


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