XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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Representações e perceções de hortas comunitárias: o caso das hortas da Devesa
Joaquim Sampaio

Última alteração: 2018-06-06

Resumo


A produção do espaço apresenta uma relação profunda com as representações sociais e a perceção. Serge Moscovici introduz o conceito de representações sociais, tornando-se central para as ciências sociais. Tendo por referência estas formas de conhecimento elaboradas e partilhadas por um conjunto social, que concorrem para a construção de uma realidade comum (Jodelet, 2001), a perceção humana vai ser necessariamente condicionada, segundo princípios de subjetividade, intersubjetividade e de ancoragem (Merleau-Ponty, 1945). Este enquadramento teórico serviu de suporte ao estudo das Hortas da Devesa, na cidade de Famalicão. Por que é que os utilizadores pretendem ter uma horta? Que sensações as hortas lhes transmitem? Quais são os benefícios de uma horta? Qual é o grau de satisfação e qualidade de vida associados às hortas? As hortas mudam estilos de vida? Estas são questões que este artigo pretende responder. Assim, os objetivos deste artigo são: 1) identificar os fatores que conduzem ao cultivo de uma horta comunitária; 2) compreender a importância das hortas comunitárias para a qualidade de vida das populações urbanas; 3) compreender o papel das hortas comunitárias no planeamento urbano. Foi aplicado um inquérito a 98 utilizadores, entre abril de 2017 e maio de 2018, correspondendo a 51% dos talhões para utilizadores familiares. Mais de 90% dos utilizadores das hortas respondem que se sentem mais saudáveis, relaxam, distraem-se, divertem-se, registam sensações de bem-estar e de liberdade, não sentem stress, desmotivação, cansaço mental, aborrecimento nem solidão. As causas para cultivarem uma horta são diversas, destacando-se as varáveis relacionadas com a saúde e com aspetos relacionais/sociais. Os benefícios destas hortas são económicos, sociais e paisagísticos/ambientais. Estas hortas provocam mudanças positivas na saúde, nos hábitos e na relação com a cidade. Proporcionam bem-estar e qualidade de vida. Com isto, conclui-se que as perceções, sendo mecanismos individuais, encontram-se alinhadas em vários domínios, permitindo compreender as representações dominantes deste conjunto social e a importância deste tipo de espaços para a qualidade de vida e bem-estar da população urbana. Por isso, é necessário repensar o papel destas hortas no planeamento urbano.


 


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