Última alteração: 2018-06-15
Resumo
O concelho de Paredes de Coura ornamenta um conjunto significativo de paisagens literárias que dão lastro a diversos percursos relatados e construídos pela literatura. Porventura, o mais relevante e conhecido seja aquele que se acolhe na Quinta do Amparo, e que foi efabulado pelo escritor Aquilino Ribeiro, em 1957 em “A Casa Grande de Romarigães”. Sobre a marca física desta quinta incide a capacidade criadora do escritor e do seu romance histórico. Da obra emana um espírito, uma intensidade tão forte que a presença física do sítio se revê nas evocações do texto e na memória dos feitos que ali terão ocorrido. Uma trama ficcional, a que todo o romance obedece, ajusta-se fielmente à geografia física e humana que lhe serviu de cenário.
Esta imanente narrativa é um exemplo daquilo que alguns escritores conseguem adicionar, por vezes, a determinados territórios sentimentais que servem de base à criação simbólica de cenários literários. Essa identificação está subjacente em muitas das suas obras literárias, sobretudo nas de natureza ficcional, despertando sentimentos de identidade e de pertença junto de quem compare os cenários descritos com os territórios reais.
É nesta margem que também nos interessa situar algumas modalidades de turismo cultural, nomeadamente as que assentam na valorização turística das paisagens literárias. Certos trabalhos de geografia cultural incidem sobre o modo como as paisagens geográficas e as suas correspondentes paisagens literárias geram fenómenos de atratividade sobre os turistas e como se compaginam os factores que lhe estão subjacentes. Herbert relevou, no artigo “Artistic and Literary Places in France as Tourist Atractions” (1996), a importância que as obras literárias e artísticas exercem na consolidação de uma estratégia de turismo cultural, em certos territórios franceses. A procura dos lugares mágicos, dos sítios imaginários, e a sua associação com personagens fictícias é enfatizada por Herbert (1996) na introdução daquele artigo quando fala nas paisagens literárias de escritores ingleses e irlandeses.
Ora, os resultados provisórios já obtidos, e os que pretendemos ainda explorar, destacam a ideia de que a paisagem literária de “A Casa Grande de Romarigães” se presta para que a partir dela se construa uma estratégia de turismo cultural com potencial endógeno, já que a sua riqueza espalha-se pela região envolvente ampliando a sua massa crítica. E mobilizando um conjunto de recursos, relatados e construídos pela literatura, demonstraremos que a cooperação das entidades locais se revela um factor determinante para o estabelecimento de uma sólida estratégia de dinamização endógena sobretudo no que toca ao “papel da inovação social, da aprendizagem, do capital relacional e da governância enquanto factores de desenvolvimento turístico” (Moreira, F, 2008:158).
Face a isso, formularemos uma questão a esclarecer no decurso desta comunicação, e que se aclara na seguinte conformação: que relevância poderá ter o turismo literário na consolidação de uma estratégia de desenvolvimento local?