XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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Capital interétnico: Capital social e relações interétnicas em doze bairros multiétnicos de quatro cidades europeias
Rui Carvalho

Última alteração: 2018-06-06

Resumo


As maiores cidades europeias têm vindo a receber importantes fluxos de migrantes internacionais nas últimas décadas. A crescente diversidade étnica decorrente destes fluxos migratórios tem vindo a colocar importantes desafios para estas cidades em geral e, em particular, para as dinâmicas sócio-espaciais de interação e de convivência urbana. Estes processos migratórios e de diversificação étnica têm fomentado um forte interesse escolástico nas últimas décadas, multiplicando-se os trabalhos académicos devotados a analisar os seus impactos para as (con)vivências urbanas, em especial para as interações sociais e para a produção de identidades, desigualdades e exclusões sócio-espaciais a várias escalas (do bairro até à metrópole) nos espaços urbanos (europeus) contemporâneos. Este trabalho procura contribuir para esta(s) literatura(s). Utilizando dados provenientes de um questionário comum aplicado em várias cidades europeias, eu exploro quais as condições individuais e contextuais que influenciam o estabelecimento de contactos sociais e de relações interétnicas por parte dos residentes nativos e imigrantes de doze bairros multiétnicos localizados em quatro grandes cidades europeias (Bilbao, Espanha; Lisboa, Portugal; Salónica, Grécia; e Viena, Áustria). Do ponto de vista metodológico, a minha análise é baseada na definição de vários modelos de regressão multivariada (especificados ao nível dos indivíduos, mas sempre utilizando elementos contextuais como variáveis de controlo) estimando indicadores de perceções (capital social cognitivo) e interações sociais (capital social comportamental), assim como o estabelecimento de contactos interétnicos de várias tipologias e graus de intimidade, sempre ao nível do bairro. Os meus resultados mostram que, controlando para outras variáveis individuais e independentemente das características do bairro de residência, ser imigrante ou nativo é a variável individual que mais fortemente ajuda a prever o estabelecimento de relações interétnicas e a configuração de atitudes mais positivas (por parte dos imigrantes) face aos bairros de residência. Adicionalmente, os indicadores atitudinais dos respondentes incluídos nos modelos de regressão (religiosidade; atitudes face à imigração; e perceções acerca da segurança, infraestruturas e relações de vizinhança nos bairros) explicam somente o estabelecimento de contactos interétnicos de menor nível de intimidade, não se associando fortemente aos contactos mais íntimos. Estes e outros resultados, cujas implicações discutirei à luz dos quadros teóricos e da investigação empírica existentes no âmbito dos conceitos e práticas de capital social e das relações intergrupais, demonstram a importância conceptual e metodológica da realização de estudos comparativos que utilizem variáveis de nível individual (por exemplo, e em especial, raça, etnicidade ou natividade) e contextual, diferentes tipologias e graus de intimidade de interação, e dimensões cognitivas e comportamentais – aspetos raramente considerados de forma conjunta nos estudos desta índole – em todas as investigações empíricas que procurem discernir as associações entre diversidade étnica e interações sociais (ao nível dos bairros).


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