XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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Entre o novo rural e a questão agrária
Ana Carolina Gonçalves Leite

Última alteração: 2018-06-06

Resumo


Apresentamos uma crítica de duas das mais importantes perspectivas que informam o campo dos estudos rurais confrontando-as entre si e com as condições hodiernas de reprodução social do campesinato brasileiro. Quando, em 1970, tal campo foi estabelecido, dizia-se voltado a discutir particularidades que caracterizavam o rural. As categorias que encerravam essas particularidades referiam-se a recortes espaciais ou grupos sociais, de maneira que apontavam, todas, para o estudo de determinadas condições de reprodução social. Acréscimos nesse mesmo campo reapresentaram essa problemática em termos da relação entre reprodução do campesinato e do capital. Assim, uma polarização implícita entre rural e urbano, na qual o urbano podia aparecer como polo do desenvolvimento capitalista era dissolvida, referindo-se, as particularidades, a duas formas que se haviam autonomizado na modernização e que concorriam diferentemente na sua reprodução. Contemporaneamente, a pergunta sobre o que diferenciaria o rural numa sociedade hegemonizada pelo urbano reaparece e organiza uma das perspectivas referidas, dedicada a multifuncionalidade e pluriatividade, incremento da participação de rendimentos não agrícolas no orçamento camponês, etc. Em seus variados enfoques, ela investiga se há e quais são os novos conteúdos do rural. Em paralelo, a outra perspectiva responsável por informar esse campo debruça-se sobre as modalidades de apropriação fundiária presentes atualmente no campo, em como expressam características da reprodução capitalista e definem possibilidades de acesso à terra. Manejam, em seus enfoques também diversos, as noções de territórios camponeses e do agronegócio, de territorialização do monopólio e monopolização do território, abrangendo análises sobre as diferenças nas relações de produção na pequena e grande agricultura e a recriação da questão agrária. Apresentadas as questões que orientam cada uma, temos por objetivo confrontá-las entre si e com as atuais condições de reprodução do campesinato brasileiro, problematizando a especialização de cada uma em um grupo de fenômenos que aparecem, não obstante, fundidos, ao menos na realidade concreta que investigamos. Assim, em comunidades rurais existem hoje opções de trabalho de prestação de serviços em restaurantes para turistas, pesque-pagues, condomínios de segunda residência, entre outros equipamentos de turismo e lazer. Procurando interpretar como tal dinâmica impacta nas condições de sobrevivência dos camponeses ao oferecer alternativas para que integrem em sua reprodução rendimentos não agrícolas, como não levar em consideração que ela possui também aspectos fundiários, desencadeando uma valorização da terra que culmina até mesmo na expropriação? Ou, do inverso ponto de vista, ante as condições de reprodução apontadas, seria rigoroso pressupor que nas terras camponesas, objeto da atual expansão do capital, se reproduzem relações não capitalistas, sem mais? Sem uma discussão mais aprofundada sobre o caráter dessas relações há sentido em continuar definindo como acumulação primitiva o processo ou a ideia de recriação da questão agrária resulta anacrônica, deixando de dar conta conceitualmente das mudanças no objeto que pretenderia discutir? Confrontando autores e os mesmos com contextos empíricos que temos estudado em comunidades rurais brasileiras, apresentamos uma crítica contribuindo para que o campo dos estudos rurais ultrapasse os discutidos limites.


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