Última alteração: 2018-06-01
Resumo
A avaliação da suscetibilidade a movimentos de vertente para Portugal Continental apresentada neste trabalho baseia-se na exploração de três inventários de instabilidades: (1) inventário extraído da base de dados DISASTER, construída a partir de registos em jornais no período 1865-2010, constituído por 235 pontos representando movimentos de vertente que, independentemente do número de pessoas, causaram vítimas mortais, feridos, desaparecidos, evacuados ou desalojados; (2) inventário de 1421 pontos representando movimentos de vertente que foram reportados por jornais em Portugal durante o período 1865-2010 (incluindo a base de dados DISASTER), mas também outras ocorrências independentemente da magnitude das respetivas perdas; e (3) um inventário detalhado contendo 7387 movimentos de vertente representados por polígonos e datados de 1950 até 2015. Este último inventário foi produzido com fotointerpretação e trabalho de campo em 14 áreas de estudo selecionadas, distribuídas ao longo do país e cobrindo 11.547 km2 (13 % da superfície do país). Para efeitos de modelação, cada inventário foi considerado como um todo, não considerando o tipo de movimento.
Foram considerados sete fatores de predisposição: altitude, declive, índice de posição topográfica (TPI), litologia, tipo de solo, unidades ecológicas e água disponível (diferença entre precipitação e evapotranspiração potencial). A altitude, declive e TPI foram extraídos do modelo digital de elevação fornecido pela Agência Europeia do Ambiente, com pixel de 25m. A litologia foi derivada do Mapa Geológico de Portugal (escala de 1: 500.000) fornecida pelo Serviço Geológico Português. As 283 classes do mapa original foram reduzidas para 25 classes litológicas. O tipo de solo, as unidades ecológicas e a água disponível foram obtidos do Atlas Ambiental Digital de Portugal, na escala 1: 1 000 000. Todos os fatores de predisposição foram classificados e representados numa estrutura de dados matricial, com células de 25 m.
A suscetibilidade à ocorrência de movimentos de vertente foi avaliada utilizando o método estatístico do Valor Informativo. Para comparação e controle, foi também aplicada uma AHP (Analytic Hierarchy Process) aos fatores de predisposição para estabelecer pesos relativos baseados na escala de influência de Saaty. A ponderação dos fatores de predisposição foi realizada em duas etapas: primeiro, entre os fatores e, segundo, entre as diferentes classes de cada fator. No total, foram realizados 5 modelos de suscetibilidade a movimentos de vertente, que foram validados e comparados com as curvas de taxa de sucesso e taxa de predição.
Os resultados obtidos apontam dois modelos de suscetibilidade a movimentos de vertente como os mais confiáveis: o modelo produzido com a AHP e o modelo estatístico produzido com o método Valor Informativo e o inventário de movimentos de vertente (3) que é extrapolado com sucesso para a totalidade do território de Portugal.