Última alteração: 2018-05-30
Resumo
Na última década, tirando partido das características da Web2.0, do crescimento das ferramentas e linguagens de código aberto e da disseminação de antenas de GPS em equipamentos pessoais, foram crescendo as plataformas de partilha de informação de carácter geográfico o que levou à criação de um novo tipo de dados – a informação geográfica voluntária (Goodchild, 2007).
Estes dados, ainda que espalhados por várias plataformas, de acordo com as modas e as preferências dos utilizadores, levaram vários autores a explorar sua a utilidade para a compreensão de usos turísticos e recreativos em áreas protegidas. Face a restrições técnicas e financeiras, estes dados revelaram-se bons indicadores da espacialização e intensidade de utilização de actividades tão populares como o BTT (Nogueira Mendes et al, 2012; Campelo e Nogueira Mendes, 2016) ou corrida e passeios a pé (Norman e Pickering, 2017). Foram igualmente utilizados para modelar interacções espaciais entre diferentes utilizadores (Santos et al 2016) ou para ensaiar modelos de gestão participativos assentes em WebSIG (Wolf et al, 2018). No entanto, o uso destes dados tem-se limitado sobretudo às análises geográficas dos mesmos, tendo sido ainda pouco explorados outros aspectos importantes para a gestão de usos recreativos como o perfil destes utilizadores, os seus países de origem, ou mesmo as distâncias a que se disponibilizam a percorrer para praticar as suas actividades, o que pode também ser aferido a partir de informação geográfica voluntária.
O objectivo deste trabalho é testar a possibilidade de avaliar a capacidade de atracção de produtos turísticos e recreativos com base em dados recolhidos em plataformas de partilha on-line tendo em conta os países de origem desses utilizadores. Nesse sentido foram recolhidos de uma forma sistemática todas as tracks de GPS disponíveis no serviço GPSies.com (um dos mais populares e antigos serviços de partilha on-line) para as actividades de BTT, Ciclismo, Cicloturismo e Pedestrianismo tendo sido analisadas as proveniências dos utilizadores para dois conjuntos de dados de territórios distintos: a região de Lisboa (onde não existe uma oferta estruturada para este tipo de produtos) e o Sudoeste Alentejano (território da Rota Vicentina).
Verifica-se uma grande diferença do número de tracks obtidas para cada território (25505 para Lisboa v.s. 3680 Sudoeste Alentejano - submetidas entre 2006 e 2018), sendo a percentagem de utilizadores estrangeiros para o território da Rota Vicentina quase o dobro da dos utilizadores da região de Lisboa (com 18,97% v.s. 10,33%). Da análise dos dados pode inferir-se a grande popularidade do GPSies.com junto dos praticantes de BTT (56,70% das tracks para o Sudoeste e 54,60% para Lisboa são indicadas em exclusivo para estas actividade), mas destacam-se na Costa Vicentina os utilizadores estrangeiros que indicaram que os seus percursos são próprios para o cicloturismo ou para o pedestrianismo, surgindo com percentagens de 20,16% e 32,04% quando na região da capital estes valores são de apenas 9,90% e 19,28% respectivamente.
Apesar das limitações deste tipo de análises inerentes à própria natureza da informação geográfica voluntária, pode concluir-se que produtos recreativos devidamente estruturados (como é o caso da Rota Vicentina) contribuem para a atractividade turística de territórios periféricos concorrendo para o seu próprio desenvolvimento.