Última alteração: 2018-06-06
Resumo
De uma forma geral, planos de ordenamento e gestão de território permanecem essencialmente tecnocráticos, devido à fraca ou inexistente participação dos agentes territoriais. Em zonas rurais, este fenómeno é enfatizado pela dificuldade de promover a participação de uma população frequentemente descrente e dispersa. O afastamento entre a tomada de decisão e as necessidades e opiniões dos agentes interessados pode influenciar de forma negativa a execução dos planos definidos. Surge então a necessidade de aliar uma abordagem participativa à análise territorial de forma a encontrar estratégias em conformidade com a realidade local. Neste sentido, apresentamos a metodologia “Jogo do Território”. O Jogo de Território é uma abordagem participativa que permite mapear visões negociadas dos vários agentes territoriais, tendo como base o próprio território (Lardon, 2013). O jogo divide-se em três fases: 1) desenhar um diagnóstico conjunto das principais dinâmicas do território; 2) imaginar uma visão comum para o futuro; e 3) decidir um conjunto de acções a ser tomadas no presente para ir de encontro à visão definida. As características lúdicas desta metodologia, aliadas à preparação das bases do jogo, permitem dissipar possíveis tensões, ao mesmo tempo que impõem uma concretização espacial. Para exemplificar a utilização desta metodologia, apresentamos à sua aplicação ao Sítio do Monfurado (SM).
O SM integra a rede Natura 2000, enquanto sítio de interesse comunitário, pela sua diversidade de habitats e de espécies com valor de conservação. Ainda que o estatuto garanta alguma protecção que não se verifica noutras áreas de montado, o SM está sujeito a forças motrizes externas que podem ameaçar a sua conservação (Ferraz de Oliveira & Pinto Correia, 2017). O Jogo de Território aqui apresentado focou-se nas dinâmicas sentidas e acções necessárias para travar ou potenciar estas dinâmicas, e foi norteado pela pergunta “Que tipo de agricultura é que podemos ter no Sítio do Monfurado, de forma a preservar a biodiversidade?”. O jogo realizou-se em Abril de 2018 com doze jogadores, divididos por duas mesas com seis jogadores cada. Os participantes incluíram gestores de terra, representantes de administração local e investigadores.
Entre os jogadores, verificou-se um consenso geral sobre o interesse na preservação do SM com as suas características actuais. A diminuição da população activa e intensificação da produção pecuária, bovinos em particular, surgiram como obstáculos à preservação de Monfurado. Foi identificada a necessidade de valorizar o Sítio e os seus produtos, através de compensações económicas, como a criação de uma marca “Monfurado” e o pagamento de serviços de ecossistemas, que estimulem uma dinâmica sócio-económica, mantendo os valores naturais existentes. Ao longo da discussão, prevaleceu a ideia de privilegiar a gestão do território à dimensão do Sítio e não apenas da propriedade, para uma visão integrada de ordenamento. Quanto à utilidade da metodologia, verificámos alguma relutância por parte dos participantes em comprometerem-se com representações espaciais. Contudo, a representação espacial fomentou uma discussão próxima à realidade local e das necessidades concretas.