Última alteração: 2018-06-11
Resumo
Os sistemas de transportes, de modo global, tendem a favorecer e priorizar modos motorizados de deslocamentos, aceitando as externalidades ambientais e sociais que recaem sobre os demais modos de transporte e para a sociedade como um todo. De acordo com Gössling (2016), os sistemas de transportes contemporâneos são caracterizados pela injustiça, que são aparentes na exposição aos riscos e poluentes, distribuição do espaço e consumo de tempo. Embora o deslocamento por bicicleta tenha um papel importante no planejamento de transportes sustentáveis e exista um consenso político de que deva ser incentivado, é notada uma realidade persistente no desenvolvimento de infraestrutura destinada ao modo de transporte menos sustentável de todos, o carro. Em função da quantidade de veículos e da necessidade de conformar o espaço, o automóvel é responsável pelos impactos negativos mais persistentes no sistema viário, e sua dominância dentre os sistemas de transporte pode tornar o transporte por bicicleta desagradável e inseguro (VASCONCELLOS, 2006). Segundo Maricato (2014), o automóvel, que era uma opção para os mais ricos, passou a ser uma necessidade de todos, ao invés de escolha. Aparente liberdade de acesso a qualquer parte da cidade, a qualquer hora, quando estendida a grande parte da sociedade, dilacera cidades em fragmentos permeados por vias rápidas de fluxo contínuo, com ocupação esparsa e hostil aos movimentos de pedestres e bicicletas. Quando uso dos veículos é analisada em relação às classes sociais, o uso do espaço mostra-se altamente desigual, onde aqueles com maior renda e posse de automóvel consomem mais espaço viário do que cidadãos que se deslocam a pé, de bicicleta ou transporte público. De modo abrangente, a justiça social nos sistemas de mobilidade se refere basicamente aos princípios de equidade nas condições de deslocamento e, para que isso ocorra, o sistema de transporte tem de ser dimensionado e planejado de forma democrática, focando a população mais pobre que apresenta baixa capacidade de pagamento dos serviços. A bicicleta surge, então, como ferramenta indutora para uma cidade mais socialmente justa e ambientalmente sustentável, devido seu baixo custo, pouco impacto no ambiente construído e eficiência no tempo de deslocamento comparada a outros modais, em especial para distâncias curtas. Planejar cidades considerando verdadeiramente a bicicleta como modo de transporte implica em diminuir tanto distâncias físicas nos trajetos cotidianos quanto sociais, buscando uma cidade justa, onde o coletivo possa se apropriar do espaço físico e ambiente social (LEFEBVRE, 2006). Assim, o trabalho aborda a questão da justiça urbana aplicada à mobilidade, avançando na temática do deslocamento por bicicleta como possível alternativa para reestruturação dos sistemas de transportes.