XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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DAS EXPECTATIVAS ÀS CONCRETIZAÇÕES – O CICLO DE VALORIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS O CASO DA RUA DE SÃO VÍTOR, NO PORTO.
Jorge Ricardo Ferreira Pinto, José Alberto Rio Fernandes

Última alteração: 2018-05-27

Resumo


Remetida, em Portugal, a um círculo restrito, de âmbito científico e académico, até há poucos anos, a palavra gentrificação entrou no léxico comum, colocada em títulos de jornais e no centro de discussões quotidianas de gente comum. Em Portugal, o processo é associado, em regra, às duas maiores cidades portuguesas, Porto e Lisboa, e visto genericamente como consequência do acelerado crescimento do turismo nas duas metrópoles e de processos ditos de especulação. De uma forma simples, considera-se a gentrificação como um processo que valorizou economicamente (em particular, na dimensão imobiliária) espaços que, no final do século XX, eram, por um lado, lugares em perda demográfica, ocupados por residentes de classe média-baixa e baixa, muitos dos quais idosos e, por outro, lugares com falta de dinâmica comercial com estabelecimentos antiquados, desqualificados e devolutos. A presente comunicação e artigo pretendem analisar o processo de gentrificação de uma área concreta e muito especial da cidade do Porto, o eixo rua de São Vitor / Praça da Alegria, partindo, todavia, de um ponto de vista evolutivo de geografia urbana.

Quando a rua de São Vítor foi definida, no princípio do século XIX, os seus lotes de terreno tinham dos valores mais elevados de arrendamento do Porto, fruto da expectativa criada pela sua situação geográfica, junto à quinta de verão do bispo do Porto, com vistas sobre o Douro. Todavia, o intenso processo de industrialização da parte oriental do Porto, sobretudo na segunda metade de Oitocentos, alterou o contexto da urbanização dum espaço agora rodeado de um conjunto de fábricas de tecelagem, curtumes e tabaco e do maior cemitério da cidade (Prado do Repouso). Este processo originou uma mudança gradual do valor do solo que, da expectativa inicial, foi caindo para níveis muito baixos, o que ajuda a compreender o desenvolvimento das “ilhas”, solução habitacional de baixo custo muito comum na cidade e com especial significado nesta área, até hoje. É neste mesmo eixo que se assiste hoje a um processo inverso de elitização, tanto do ponto de vista da ocupação para residência – sobretudo com a entrada do alojamento local – como na dimensão funcional – com o aparecimento de um conjunto de lojas de carácter híbrido, entre o neotradicional, o multicultural e/ou pós-moderno.

A relação com a génese e a consideração da evolução serão base de discussão na apresentação e texto, considerando a dinâmica recente numa comparação com a realidade de há cerca de 150 anos, recorrendo-se a dados históricos e contemporâneos relativos a população, comércio e imobiliário.

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