As margens estuarinas são áreas particularmente sensíveis à ocorrência de inundações devido ao facto de nelas se conjugarem diferentes forçadores nomeadamente o efeito da oscilação da maré, dos caudais fluviais e de fenómenos de sobreelevação de origem meteorólogica, somando-se a estes os efeitos da precipitação e dos sistemas de drenagem urbana.  A previsível subida do nível médio do mar (Nicholls et al, 2010) aliada à tendência de crescimento urbano coloca novos desafios à gestão da inundação nestas áreas.

O uso de diferentes tipologias de fontes históricas para a extração de informação sobre episódios de inundação tem sido largamente utilizada, sobretudo em contexto fluvial, onde se procura essencialmente o melhoramento da análise da frequência de ocorrência de episódios de inundação através da extracção de dados relativos aos níveis máximos atingidos (p.e. Payrastre et al, 2011) ou a reconstrução geomorfológica (p.e. Raska et al, 2014). Uma utilização mais alargada tem sido feita com aplicações ao planeamento e gestão do risco de inundação (p.e. Santos et al, 2014; Rilo et al, 2017 ), onde é cada vez mais relevante conhecer e avaliar os limites e fiabilidade destas fontes.

A partir do caso de estudo do estuário do Tejo, para o qual se construiu uma base de dados de danos provocados por episódios de inundação entre 1865 e 2013 (Rilo et al, 2017) através da extração de informação de diferentes fontes históricas (essencialmente jornais), é feita uma análise crítica do uso deste tipo de fontes discutindo as vantagens e avaliando as limitações para a extracção de dados sobre inundações estuarinas. A análise aborda a relevância e diversidade de informação que este tipo de fontes detém, ao mesmo tempo que avalia os limites de aplicação.

O trabalho permitiu obter uma caracterização do histórico de inundações estuarinas neste sistema, com especial enfânse nos diferentes tipos de danos, ao mesmo tempo que mostra as limitações deste tipo de fontes para a caracterização dos factores forçadores.