Última alteração: 2018-06-06
Resumo
Em 2016, a Itália recebeu cerca de 10% dos pedidos de asilo da UE e 80% dos requerentes tinham entre 18 e 34 anos (Eurostat, 2017). Face ao desafio e ao dever humanitário de integrar na sociedade e no mercado de trabalho os mais de 400.000 imigrantes que se candidataram a proteção internacional na Itália entre os anos de 2014 e 2017 (Dipartimento Libertà Civili e Immigrazione, 2018), várias universidades, bem como algumas instituições governamentais e não-governamentais italianas, desenvolveram projetos para validar as competências académicas e profissionais obtidas pelos refugiados nos seus países de origem, e concederam bolsas para aqueles que desejavam prosseguir os estudos. Tais ações permitem que os beneficiários de proteção internacional tenham a oportunidade de se integrar no mercado de trabalho italiano após, ou ainda durante, os seus estudos.
Esta investigação reúne e analisa as boas práticas de acolhimento e integração de refugiados no ensino superior italiano. Foram realizadas entrevistas com alunos, docentes, e funcionários governamentais e de ONG responsáveis pelos projetos. As instituições de ensino que colaboraram na pesquisa são: Universidade de Bari, Universidade Telemática Uninettuno, Universidade do Salento, Universidade de Pavia, Universidade de Ferrara e Universidade de Messina. Também recorremos à informação disponível nos sites das instituições de ensino, bem como a estudos prévios desenvolvidos por académicos e ONG. O Ministério do Interior italiano disponibilizou os relatórios oficiais mais recentes sobre proteção internacional no país.
Verificámos que a quantidade de bolsas de estudo oferecidas é maior do que o número de refugiados que ingressam – ou reingressam – no ensino superior, pois são poucos aqueles que reúnem os requisitos necessários. Como apenas uma minoria dos imigrantes que chega à Itália consegue proteção internacional, os programas têm mais vagas do que candidatos elegíveis. Também constatamos que o trabalho que compete às universidades tem sido bem desenvolvido, já que muitos dos participantes da comunidade académica estão de facto comprometidos com esta causa. Os alunos estão satisfeitos com os cursos e acreditam que essa oportunidade de voltar aos estudos, validar as suas competências profissionais e ingressar no mercado de trabalho está mesmo a mudar as suas vidas. Sentem que, a partir do momento em que ingressam na universidade deixam de ser rotulados como refugiados; são estudantes e profissionais com um importante papel no desenvolvimento global.
Apesar da situação positiva, permanece o desafio de aumentar o acesso destes imigrantes ao ensino superior, seja facilitando a inscrição para aqueles que ainda não obtiveram a proteção internacional (possivelmente matriculando-os como alunos internacionais regulares), aumentando a divulgação dessa possibilidade de acesso, e também o número de instituições de ensino envolvidas nessa causa, ou, ainda, estimulando o investimento da iniciativa privada. É importante ampliar essa rede e criar formas de regularizar a situação destes candidatos para que possam matricular-se. Os projetos identificados são bons exemplos do que pode ser feito em prol da integração dos estudantes, e com as devidas cautelas, poderão ser inspiradores para outras regiões ou países.
Palavras-chave: refugiados, ensino superior, Itália, integração.