XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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O PANORÂMICO DO MONSANTO, A ILUSÃO DO ABANDONO E A VITÓRIA DA RUÍNA
Pablo Reis Costa, Eduardo Brito-Henriques

Última alteração: 2018-05-24

Resumo


O conceito de regeneração urbana transporta uma concepção fragmentária da evolução do espaço urbano e das suas estruturas construídas. Nele está implícita a ideia de que a temporalidade da cidade é descontínua, interrompida por sucessivos fins e recomeços. Os conceitos de destruição criadora e de obsolescência sustentam este racional, ao fazerem crer que mudanças económicas, tecnológicas e societais impõem que certos locais deixem de ser atrativos ou adequados, que sejam abandonados, e que entrem em declínio. Os espaços abandonados são então vistos sob a ótica do vazio urbano (onde aparentemente nada existe e nada acontece) e a ruína aparece como um momento terminal que impõe um refazer.

Nesta comunicação, pretendemos discutir o abandono e arruinamento na cidade a partir da análise de um caso concreto e de uma abordagem baseada nas teorias não-representacionais (TNR, o que permitirá um outro entendimento deste fenómeno. Fazer uma abordagem a partir das TNR significa seguir uma metodologia pós-fenomenológica focada na materialidade e na capacidade afetiva das coisas (no sentido espinosa-deleuziano de afeto) (Ash e Simpson, 2016); por outro lado, significa aceitar uma ontologia relacional e processual que assume a fluidez das coisas e a produção dos significados na ação (Anderson e Harrison, 2010), o vitalismo da matéria, e que vê as causas dos fenómenos sociais como resultado do agenciamento em rede de atores humanos e não-humanos (Latour, 2005).

O caso que vamos analisar é o Panorâmico do Monsanto, em Lisboa, um edifício construído em 1968, que funcionou como restaurante até 2001 (aparentemente nunca com grande êxito), fechou, entrou em ruína, e passou depois a ser procurado para a prática de Urbex, adquirindo tal sucesso que se transformou numa atração turística oficial da cidade. O estudo baseia-se, por um lado, em material documental de várias fontes e entrevistas que permitiram reconstruir a biografia do edifício, e, por outro, em observações realizadas em visitas de campo decorridas entre abril de 2017 e abril de 2018. Focando-nos numa descrição atentiva do processo de arruinamento do edifício e dos usos informais que se geraram, mostramos que o abandono dos espaços urbanos abandonados é afinal relativo e, em certa medida, ilusório, e propomos uma visão do arruinamento não como estado terminal e sim como metamorfose, i.e. um estado em devir da matéria produzido pela interação de corpos e atores heterogéneos, humanos e não humanos, que não encerra mas antes abre novas possibilidades de usos e eventos e permite a ressignificação dos lugares.

Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto PTDC/ATP-EUR/1180/2014 («NoVOID – Ruínas e Terrenos Vagos nas Cidades Portuguesas»).

 

Palavras-chave: Abandono; Ruínas; Teorias Não-Representacionais; Lisboa

 

Bibliografia

Ash, J., Simpson, P. (2016). Geography and post-phenomenology. Progress in Human Geography, 40(1), 48-66

Anderson, B., & Harrison, P. (2010). The promise of non-representational theories. In B. Anderson & P. Harrinson (Eds.), Taking-place: Non-Representational Theories and Geography (pp. 1-34). Farnham: Ashgate.

Latour, B. (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford: Oxford University Press.

 


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