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ECOLOGIA DOS ESPAÇOS ABANDONADOS DAS CIDADES: CARACTERÍSTICAS DA SUA VEGETAÇÃO E IMPORTÂNCIA PARA A BIODIVERSIDADE URBANA. COMPARAÇÃO ENTRE AML E AVE
Última alteração: 2018-06-07
Resumo
No âmbito do projeto NoVOID (FCT - PTDC/ATP-EUR/1180/2014) foram identificados e classificados os espaços abandonados (ruínas e terrenos vacantes) de quatro cidades portuguesas: Guimarães e Vizela, no Ave, Lisboa e Barreiro, na AML. Com o objetivo de caracterizar a sua flora e vegetação foi selecionada uma amostra de 20 locais, correspondendo a 60 inventários florísticos e respetivas características ambientais. O estudo dos neo-ecossistemas de espaços urbanos abandonados, caracterizados por neocomunidades onde se misturam espécies nativas e não-nativas, com potencial para alterar o funcionamento ecossistémico, em habitats resultantes da ação humana deliberada ou inadvertida, são uma das principais discussões atuais na Ecologia (urbana e das invasões ecológicas). A importância desta "neowilderness" para a biodiversidade urbana é objeto de polémica, oscilando as posições entre as abordagens mais antropocêntricas (genericamente, todas as espécies são importantes e podem prestam serviços ecossistémicos) e ecocêntricas (as espécies têm valor intrínseco, mas o risco ecológico das não-nativas tem de ser avaliado, pois as invasoras são uma das maiores ameaças à biodiversidade). A análise multivariada dos inventários recolhidos mostrou que, apesar do domínio de espécies generalistas, nativas e não-nativas, (66% na AML, 53% no Ave), são as espécies nativas não ruderais que ainda diferenciam os neo-ecossistemas urbanos do Ave e da AML. O valor biogeográfico destas espécies, que respondem também a diferentes características climáticas (mais euro-atlânticas a norte e mais mediterrânicas a sul) sobrepõe-se a uma homogeneização biótica que caracteriza muitos dos vazios urbanos a nível global. Por outro lado, apesar das espécies não-nativas serem apenas 26% do elenco florístico, 14% apresentam grande invasibilidade e 8%, também do total, são classificadas como invasoras. De resto 68% dos inventários possuem pelo menos 1 espécie invasora, havendo dois, um em cada região, com um total de 5 invasoras. Apesar das espécies não-nativas poderem prestar serviços ecossistémicos, inclusive as invasoras, estes têm de ser ponderados perante o risco ecológico que ameaça seriamente não só os próprios ecossistemas urbanos, e suas inúmeras funções, mas também os ecossistemas naturais envolventes. Deste modo, as cidades são, dicotomicamente, agentes extremamente importantes quer na perda de biodiversidade (através da urbanização que destrói e fragmenta habitats naturais e propaga espécies não-nativas), quer na definição de políticas para travar essa perda (a população humana concentra-se nas cidades, onde está o capital financeiro e de conhecimento para combater tais alterações ambientais). Nessas estratégias os terrenos vacantes urbanos não devem ser esquecidos, pois podem ter um importante papel (ainda que temporário) na promoção da biodiversidade no meio urbano. Estudos demonstram que até pode haver benefícios económicos se a gestão destes espaços valorizar o "silvestre" e eles forem geridos temporariamente como um bem público, servindo para "remendar buracos" na estrutura verde urbana.
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