Última alteração: 2018-05-29
Resumo
A relação que o homem estabelece com os rios é, certamente, complexa e constituída por aproximações e antagonismos fundadas nas necessidades e expectativas humanas que se estendem ao longo do tempo e do espaço (Baptista e Cardoso, 2013). Desde sempre os rios viabilizaram o aparecimento das cidades. As cidades foram crescendo e criando impactos diversos nos seus cursos de água que, serpenteando o espaço urbano, sofreram, perversamente, com o crescimento da população e densificação urbana. Os cursos de água foram perdendo, pouco a pouco, o seu papel como elemento integrador da paisagem. Assiste-se a uma rutura na relação do Homem com o rio, que o afasta da superfície, da paisagem, da nossa vista e o “esconde” no subsolo, entubando-o. A consciencialização ambiental, que desperta da década de 70, conduz a uma reflexão sobre esta relação Homem-Rio e passa-se a uma nova fase, a de reconciliação com o rio – restauração/reabilitação fluvial. Inicia-se o resgate dos rios como elementos da paisagem e assiste-se à quebra do paradigma e mudança de padrões de desenvolvimento urbano. A cidade do Porto e o seu crescimento ao longo dos tempos não foi exceção a este tipo de relação complexa que a cidade e seus habitantes estabelecem com este recurso natural. Durante séculos o abastecimento de água à população da cidade do Porto foi feito à custa de inúmeros cursos de água. Esta abundância de água devia-se não somente às características geológicas da cidade – granítica, mas também às suas características climáticas, com precipitação abundante, própria de um clima temperado mediterrânico de fachada atlântica. A partir de 1597, o Porto começou a ir buscar a água ao Manancial de Paranhos (Arca d’Água), onde brotavam três nascentes cristalinas, que abasteciam, por meio de uma canalização tosca, as fontes e chafarizes da cidade. No séc. XIX, túneis feitos à mão, abertos no maciço granítico do Porto, passaram a conduzir a água desde a Arca d’Água aos habitantes do Porto. Hoje, esses túneis estão ocultos por baixo da cidade. Na cidade do Porto existe 66 Km de ribeiras, 76% (49,7Km) das quais estão entubadas em consequência da crescente expansão urbana. O Projeto Ribeiras do Porto tem por objetivo despoluir, desentubar e reabilitar algumas das ribeiras, pretendendo criar uma nova relação da cidade com os seus recursos hídricos, recuperando-os como elementos da paisagem e contribuindo para a sustentabilidade da cidade e qualificação territorial. É esse património histórico oculto, adstrito ao ciclo urbano da água, que será objeto deste estudo e com o qual se pretende mostrar a existência de uma outra “cidade” debaixo dos nossos pés.
Palavras-chave: Património hídrico; Rios entubados; Reabilitação; Porto
Referências bibliográficas
Baptista M., Cardoso A. (2013). Rios e Cidades: uma longa e sinuosa história. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, 20(2), 124-153.
http://www.aguasdoporto.pt/areas-de-intervencao/ribeiras (acedido a 27 de Abril de 2018)