Última alteração: 2018-06-14
Resumo
Os incêndios florestais podem afetar o solo de três formas distintas: pela exposição, deixando o solo a descoberto; pelo aquecimento e pela libertação de nutrientes. O grau de aquecimento do solo durante o incêndio é variável e depende do tipo de combustível (vegetação herbácea, arbustos e árvores), da intensidade do fogo, da natureza da camada orgânica (espessura e conteúdo de humidade), e das propriedades do solo (matéria orgânica, teor de humidade, textura) (Batista et al., 1998).
Assim, as camadas superficiais do solo são diretamente afetadas pelo fogo, conduzindo à destruição das camadas orgânicas e da maioria da vegetação, o que deixa os minerais do solo expostos e vulneráveis à ação dos agentes atmosféricos, nomeadamente ao impacto das gotas de chuva. No contexto climático vigente em Portugal, as precipitações que ocorrem na estação outonal são particularmente gravosas, pois verificam-se pouco tempo após a ocorrência dos incêndios, não permitindo uma revegetação atempada, capaz de prevenir a ação erosiva das chuvas. Em consequência, observa-se frequentemente um aumento da escorrência e, consequentemente, da erosão nas áreas afetadas por incêndios florestais (Shakesby et al., 1993; Walsh et al., 1994).
Neste contexto, os processos hidrológicos podem ser consideravelmente alterados, bem como a vulnerabilidade das paisagens a grandes enxurradas e à erosão (Shakesby e Doerr, 2006, Stoof et al., 2012), representando os fluxos de lama e as “flash flood” pós-incêndios um problema nas regiões montanhosas (Tryhorn et al., 2007), particularmente agudo em áreas declivosas de interface urbano-florestal.
O grande incêndio florestal de Braga, que teve início no dia 12 de outubro de 2017, no município de Guimarães (Leitões), e que entrou no concelho de Braga no dia 15 de outubro, queimou cerca de 1007 hectares (967 hectares de povoamentos e 40 hectares de matos), numa área onde predominavam eucaliptos, mas com uma mancha significativa de carvalhos e sobreiros, atuando com diferentes intensidades, e desprotegeu a declivosa e desordenada interface urbano-florestal da cidade de Braga.
Menos de um mês após o incêndio (10 e 11 de dezembro), a área foi fortemente afetada pela tempestade Ana (que passou a norte da Península Ibérica), a que corresponderam elevados quantitativos pluviométricos, devidos à passagem de uma frente fria associada, tendo-se registado dezenas de ocorrências na região de Braga (CDOS – Braga), muito em particular na área do incêndio e nas áreas a jusante, com especial destaque para as inundações de Esporões e para a enxurrada de Fraião.
Assim, com este trabalho, iremos analisar as ocorrências dos dias 10 e 11 de maio, consequência direta da passagem da tempestade Ana, mas profundamente condicionadas pelo grande incêndio de 15 de outubro.