O número de pequenas explorações familiares em Portugal diminuiu na última década com tendência para maior concentração da produção agrícola nacional nas explorações de grande dimensão (INE 2016). No sentido de avaliar qual o papel que estas explorações familiares têm e podem ter no futuro, no sistema alimentar, selecionámos duas regiões NUTS3 em Portugal, o Alentejo Central e o Oeste, no âmbito do Projeto H2020 SALSA – Small farms, small food businesses and sustainable food and nutrition security. Foram caracterizadas as diferentes explorações de pequena dimensão (até aproximadamente 5ha e 8 Unidades Económicas) e procurámos identificar os desafios que enfrentam e as estratégias que seguem para lidar com o sistema alimentar regional complexo no qual se situam. Recolhemos informação a partir de entrevistas a informadores chave, questionários a produtores e empresas alimentares ligadas à agricultura familiar, grupos focais e workshops, incluindo ainda outros atores do sistema alimentar. Foram selecionados quatro produtos relevantes em cada região e o sistema alimentar foi estudado para cada um desses produtos. Identificamos três fatores relevantes que afetam o sucesso das pequenas explorações: i) a densidade das pequenas explorações nestas duas regiões; ii) o acesso a cadeias de comercialização seguros e contínuos (por ex. de um centro urbano principal); e iii) a capacidade dos produtores de se associarem para incrementar o seu poder de negociação na venda e compra de fatores de produção, transformação e diferenciação dos seus produtos. As regiões selecionadas apresentam diferenças marcadas quanto à pequena agricultura familiar, nomeadamente relativas ao nível de organização e assim também da sua viabilidade como atividade económica. Identificámos uma agricultura familiar mais dinâmica, mais estável e com maiores possibilidades de continuidade, quando existem condições benéficas para a criação de redes de venda, troca, apoio, transformação e distribuição, quer a nível da produção quer ao nível institucional. Indicadores destas condições incluem principalmente as cooperativas de produtores, com maior densidade na região Oeste que na região do Alentejo Central, cujas funções compreendem (entre outras): unir os interesses comuns dos produtores, organizar a produção partindo de um entendimento das necessidades do mercado, atingir preços e quantidades competitivas que não atingiriam de maneira individual, e explorar novos canais de venda a partir da transformação dos produtos frescos que proveem das explorações.