Última alteração: 2018-06-13
Resumo
Para compreender a produção do espaço urbano levamos em consideração um conjunto de categorias desenvolvidas por Santos (2008a), a saber: forma, função, estrutura e processo. Em outras palavras, a forma é, ao mesmo tempo, condição e resultado da produção socioespacial, segundo uma dada funcionalidade que lhe é atribuída pelo conteúdo produzido e depositado por racionalidades verticais e horizontais, locais e globais, dentro de uma estrutura societária que é, simultaneamente, vinculada a processos econômicos, políticos e culturais. Tais categorias são fundamentais, já que, como afirma Santos (2008a), condicionam, orientam e modelam as práticas espaciais dos distintos atores. Nesse movimento de reflexão sobre o processo de produção do espaço, o olhar sobre a urbanização ganha destaque, visto que é um novo paradigma socioespacial (Gottdiener, 2010), que se estabelece e ganha notoriedade em diferentes partes do mundo, a partir da segunda metade do século XX (Castells, 2000, Lefebvre, 2013).
Na busca por compreender a cidade na sua dupla condição de meio material e social, e a urbanização como um processo de amplo espectro, diferentes análises combinam aspectos econômicos, culturais, políticos e sociais (Harvey, 2006, 2008, Mongin, 2009, Santos, 2008b, 2009, Soja, 2008). De um lado, estão análises baseadas em teorias locacionais que buscam entender a cidade na sua relação com a rede urbana (Barnes, 2003, Bessa, 2012, Corrêa, 2000). Por outro, inúmeras contribuições influenciadas pela teoria crítica do espaço social possibilitam um olhar crítico sobre as contradições do processo de urbanização e seus reflexos sobre o espaço urbano (Capel, 2006, 2009, Gottdiener, 2010). Tanto uma como outra corrente apresentam avanços na medida em que põem em destaque aspectos intra e interurbanos essenciais para compreender a cidade e a urbanização.
Além dessas formas de analisar a cidade e o urbano, um caminho alternativo consiste em considerar o contexto espacial (Barnes, 1989, Martin, 1995). Isto porque se o fenômeno urbano se apresenta de diferentes maneiras para cada realidade espacial, importa considerar até que ponto, como, e porque forças globais e locais, atuando ao longo do tempo, consolidam um contexto espacial e que, consequentemente, orienta e condiciona as ações de atores nos diferentes tipos de cidades – metrópoles, cidades médias e pequenas. Em outras palavras, é preciso ter em conta que a cidade, seja ela qual for e independente do tamanho, está implicada em um conjunto de relações horizontais e verticais, próximas e distantes, locais e globais, cuja explicação, é possível encontrar também, através do contexto espacial.
Assim, nosso objetivo é apresentar o conceito de contexto espacial como alternativa para entender a natureza dos processos e ações que têm lugar nas cidades. O trabalho é produto de tese doutoral e nasce da observação de que, no Brasil, a cidade e o sentido do urbano têm especificidades segundo o contexto espacial que, por conseguinte, orienta e determina as práticas espaciais urbanas dos distintos atores socioespaciais.