Última alteração: 2018-06-08
Resumo
Analisamos formas de diferenciação e desigualdade socioespaciais imbricadas às práticas de lazer que reconfiguram a sociabilidade urbana, cunhando novos conteúdos aos centros das cidades, cuja centralidade é tensionada pela distinção no acesso às áreas de consumo de bens e serviços por parte dos citadinos, inclusas as atividades de lazer e as práticas lúdicas. O recorte empírico escolhido foi a cidade de Vitória da Conquista, localizada no Centro Sul do estado da Bahia, região Nordeste do Brasil. Em pesquisas anteriores, concluímos que nessa cidade ocorrem alterações substanciais em sua estrutura espacial e no conteúdo das relações que compõem o cotidiano urbano, esse último, eleito como um campo de possibilidades, ou a ordem próxima (LEFEBVRE, 2008a), a partir do que adentramos às práticas espaciais e averiguarmos os distintos modos de apropriação do espaço, entendendo o cotidiano, desse modo, como prática desafiadora da racionalidade imposta à cidade (CERTEAU, 1994). A questão principal defendida foi que o lazer tornou-se uma nova força produtiva integrada a uma lógica de produção espacial promotora de processos de separação espacial e aprofundamento das desigualdades sociais. Em uma cidade que é estruturada sob tais condicionantes, os citadinos tendem a reproduzir as cisões e constrangimentos em seu cotidiano, expressas através de práticas espaciais denunciadoras da negação à centralidade urbana, à cotidianidade, imbuídos no direito à cidade (LEFEBVRE, 1991; 2001; 2008b). Essas questões desenvolveram-se segundo uma metodologia de trabalho pautada, sobretudo, na execução de entrevistas semiestruturadas aos sujeitos sociais, com diferentes níveis de renda, escolarização, ocupação, localização residencial, dentre outros fatores, através das quais desvendamos as experiências socioespaciais destes, apreendendo os significados atribuídos ao espaço com base em suas práticas espaciais. Com os resultados obtidos através dessa técnica, pudemos produzir informações que permitiram desvelar as representações do espaço e os espaços de representação (LEFEBVRE, 2000) dos sujeitos pesquisados, explicitando o conteúdo dos processos socioespaciais engendrados na cidade. Concluímos que o lazer se articulou como meio e produto da formação de novas áreas centrais e caminho interpretativo sobre a formação de processos socioespaciais que segmentam a sociabilidade através de modos desiguais de uso/consumo desse elemento, demarcando os lados daquele que usa e daquele que consome a cidade.
Palavras-chave: Urbanização. Cidades Médias. Lazer. Diferenciação socioespacial. Práticas Espaciais. Vitória da Conquista.
Bibliografia
Certeau, M. (1994). A invenção do cotidiano: artes de fazer. Vozes. Petrópolis.
Lefebvre, H. (1991). A vida cotidiana no mundo moderno. Ática. São Paulo.
Lefebvre, H. (2000). La production de l’espace. ( 4th ed.). Éditions Anthropos. Paris.
Lefebvre, H. (2001). O direito à cidade. Centauro. São Paulo.
Lefebvre, H. (2008a). Espaço e política. Editora UFMG. Belo Horizonte.
Lefebvre, H. (2008b). A revolução urbana. Editora UFMG. Belo Horizonte.