Última alteração: 2018-06-15
Resumo
O crescimento da prática de desportos de lazer em espaços naturais, incluindo a da corrida de montanha (geralmente conhecida por Trail Running) é inquestionável (Scheerder e Breedveld, 2015). Os dois principais factores que contribuem para este facto são o crescente número de eventos organizados (oficiais e informais) e a procura por parte dos participantes. Trata-se de um fenómeno global ao qual Portugal e Espanha não ficaram imunes e que se acentuou na última década.
Apesar de não haver um levantamento exaustivo das provas e praticantes em Portugal (Santiago, 2016) e Espanha, há evidências de o crescimento tem sido sustentado e não se tratou de uma situação pontual. Consequentemente, torna-se necessário aprofundar a pesquisa sobre a oferta (tipologias, crescimento, entidades, empresas, características, etc.) e a procura (perfil dos praticantes, motivações, experiência, treinos, etc.). Este artigo aborda o lado da procura, traçando um perfil dos praticantes de Trail Running através de questionários realizados em Portugal e Espanha.
Os questionários têm uma estrutura similar, tendo sido ajustados em função do contexto de cada um dos países e contemplam: o perfil socioeconómico; o perfil desportivo, incluindo os aspectos considerados em estudos sobre hábitos desportivos ao nível da Europa (European Commission, 2010), de Espanha (García Ferrando e Llopis, 2011) e da Catalunha (Puig et al, 2009); e as motivações de participação (Farias et al, 2014).
Os questionários foram lançados em dois eventos de referência: em Portugal na Taça de Portugal de Ultra Trail (Proença-a-Nova) e em Espanha no Ultra Trail Barcelona (Catalunha). A prova Portuguesa tinha duas distâncias (28 e 51km), tendo respondido ao questionário 75 participantes. Na prova Espanhola havia três distâncias (21, 42 e 69km) e obtiveram-se 140 respostas.
A análise das respostas é efectuada na perspectiva de melhor compreender quem são e quais as motivações de quem pratica desporto em áreas naturais, sempre numa perspectiva de comparação Ibérica. É assim possível contribuir para suportar as decisões de quem organiza este tipo de eventos (treinos e provas de Trail Running) e de quem tem responsabilidade sobre a gestão destes espaços, com particular relevância para as áreas protegidas.
O perfil dos participantes tem alguns traços similares, mas há diferenças consideráveis. Numa rápida síntese, predominam os homens, mais jovens em Espanha do que em Portugal que transitaram de outros desportos que praticavam anteriormente (atletismo em Espanha e BTT em Portugal). Quanto às motivações para a prática do Trail Running, constata-se que em ambos os casos, embora de forma mais acentuada em Portugal, a base motivacional está relacionada com a usufruição dos espaços naturais. Este facto, associado aos hábitos de treino (97% fazem 3 a 4 sessões por semana) têm levado a mais um aumento da pressão dos usos desportivos em áreas protegidas e recreativas sobretudo em contexto peri-urbano, uma vez que é nas grandes áreas urbanas que residem mais de 90% dos praticantes, merecendo por isso a devida atenção por parte de todos os envolvidos.