XVI CIGeo - Lisboa 2018, XVI Colóquio Ibérico Geografia / XVI Coloquio Iberico Geografia

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GENTRIFICACAO: O QUE É E PARA QUE(M) SERVE. REFLEXÕES DESDE O PORTO.
José Rio Fernandes, Luís Carvalho, Pedro Chamusca

Última alteração: 2018-05-24

Resumo


O conceito de gentrificação não é novo. Entrou no léxico dos estudos urbanos desde o trabalho de Ruth Glass, de 1964, associando-se, na sua formulação mais simples, ao processo de mudança de uma determinada área urbana desencadeado pelo afluxo de residentes com maior poder de compra. Todavia, o conceito tem vindo a evoluir e a ganhar importância na análise das dinâmicas urbanas, associando-se também à alteração do perfil dos utilizadores e população flutuante de uma área urbana delimitada, ou a um processo cíclico no qual as transformações residenciais, económicas e dos usos se influenciam mutuamente.

A cidade do Porto, considerada melhor destino turístico urbano 2014-16 (European Best Destination), é um exemplo particularmente relevante para a compreensão destes fenómenos. Depois de vários anos em que a política urbana se concentrava no combate ao declínio da cidade, em especial do seu centro mais antigo e de comércio, o Porto conhece importantes transformações, associadas ao crescente interesse do espaço classificado como Património Mundial da UNESCO (1996), visíveis no forte crescimento dos estabelecimentos hoteleiros (desde hotéis de luxo à explosão do alojamento local), no aumento da população flutuante da cidade (turistas, estudantes e outros visitantes), numa dinâmica comercial vibrante e complexa, com forte transformação funcional e aumento brutal do preço do imobiliário.

Nesta comunicação utilizamos o caso do Porto para explorar várias dimensões da gentrificação, considerando que esta não está apenas relacionada com padrões de alteração residencial que a literatura associa ao ciclo urbano, ou com a atração de indústrias ou trabalhadores criativos. Porque, em muitas cidades, como no Porto, o processo de gentrificação está essencialmente associado à crescente abertura e atração de visitantes internacionais, que chegam a um ritmo cada vez mais intenso. É sobretudo este aumento da atratividade que promove o aparecimento de novas atividades económicas, novos ritmos e temporalidades urbanas e uma concentração sem paralelo de população flutuante, com valorização do imobiliário, colocando desafios à diversidade e identidade da cidade, requerendo uma nova abordagem das políticas públicas de gestão urbana e desenvolvimento local de que a recente proposta do governo de uma nova política de habitação pode ser exemplo.

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